
KALEIDOSCOPE
Entrevista com Cristina Scabbia
Uma das características mais marcantes da banda é a parceria de dois vocais com os vigorosos drives de Andrea Ferro e claridade melancólica e versátil de Cristina Scabbia. Uma parceria que permite que as letras das músicas consigam ser demonstradas ao máximo, e que abre cada vez mais espaço para a exploração musical da banda. A revista Kaleidoscope entrevistou a encantadora Cristina, seguido ao lançamento de seu novo álbum,o incrível "In a Reverie". Entrevista por Mike Francis.
Você sente que o novo álbum marca uma evolução para a banda?
Cristina: Você quer dizer entre esse novo e o antigo? Er, eu acho que agora nós estamos mais maduros, mais profissionais talvez. E é diferente porque nós mudamos os membros.Agora nós temos dois novos guitarristas, e um novo baterista, e essa é a principal diferença. E a outra diferença é que agora o principal compositor é o baixista, e no primeiro álbum os principais compositores eram os outros guitarristas. O estilo é bem similar, mas nós queremos melhorar ainda mais, porque queremos ser bem marcantes no próximo álbum. (risos)
Tem algum som novo que a banda pretende explorar no próximo álbum?
C: Agora... não! Nós só sabemos que queremos que ele seja mais marcante! Não mais "metal", mas mais marcante... com certeza. Talvez experimentar com sons novos... Nós temos que pensar sobre isso.Mas agora estamos concetrados nesse álbum.
Quais são seus planos para esse ano?
C: Erm, será um ano bem cheio esse ano, porque nós temos uma turnê como Skyclad no mês que vem, (risos) e então, eu espero, mas não tenho certeza, mas nós talvez tenhamos uma turnê com o Grip Inc. Você conhece eles? Valdimar também é nosso produtor! E então nós iremos para o festival Dynamo, e em junho iremos para o festival Gods Of Metal. Tem duas noites diferentes, a segunda é algo como "Defender Night" (Noite defensora ou noite dos defensores, em português), com o Manowar e tal, e a primeira nós iremos tocar com o Metallica e o Fear Factory. A primeira noite é melhor! (risos)
Tem alguma chance de tocarem na Inglaterra?
C: Hmmm, eu não sei. Com a primeira turnê, não.Porque nós iremos fazer Alemanha, Bélgica e Holanda. Talvez com a segunda turnê, com o Grip Inc. Se tocarmos com eles, iremos tocar na Inglaterra... Mas não sei onde! (risos)
Qual é a sua música preferida do novo álbum?
C: Minha preferida? Talvez "My Wings", porque é a mais diferente. E "To Myself I Turned". Mas eu gosto de todas elas, claro! Mas essas são minhas favoritas.
O que a letra de "To Myself I Turned" significa?
C: É estranho, porque é uma história bem particular, porque foi uma cooperação entre o Valdimar, nosso produtor, e eu. Eu compus a letra e a melodia vocal, e ele compôs a música. E é uma história de amor, mas eu não posso dizer mais porque é bem pessoal... Não é uma história sobre mim. Mas eu não posso dizer mais porque é realmente muito pessoal. (risos) Não posso explicar!
Não parece uma história de amor...
C: Não é uma verdadeira história de amor, mas "To Myself I Turned" é sobre um casal que terminou, e fala sobre a sensação do pós-término. Quando eu digo "I'm the only survivor in this land" (Eu sou a única sobrevivente nesse lugar), eu estou tentando dizer que você tem que sobreviver depois de uma história de amor como essa...
OK. E por que vocês resolveram regravar a "Falling" do mini-álbum?
C: Primeiro porque foi a única música que o Marco, o baixista, compôs sem os outros membros da antiga banda. E porque essa é a versão original, não aquela do outro álbum. E nós quisemos usar o ciclo da bateria e as guitarras distorcidas, mas por causa dos outros membros nós haviamos escolhido manter a versão do mini-álbum mais calma. É por isso que escolhemos colocar ela novamente, porque é como nós queríamos toca-la.
Além de "Amor", o que mais inspira as letras da banda?
C: Depende, porque nós não somos tão bons em falar Inglês, então nós tentamos transformar a sensação que a música passa para escrever algo. Eu não sei se você consegue entender o que eu estou tentando dizer? (risos) Nós tentamos sugar todas as sensações, e escrever depois de ter ouvido a música. Ou falamos um pouco sobre as histórias do dia-a-dia. Depende... Mas "To Myself I Turned" é bem pessoal. "My Wings" fala sobre a liberdade de ser quem você quer ser. "Stately Lover" fala sobre pessoas que seguem muito as regras, e nós não concordamos, porque você tem que ser quem você é.
Parece existir algum tipo de desejo de fuga nas letras das músicas, um tipo de procura por uma fantasia.Isso é verdade? (Levamos algum tempo e algumas tentativas para conseguirmos chegar a um entendimento do que eu estava perguntando aqui!)
C: Erm, não muito. Nós tentamos nos manter na realidade. Tentamos usar a fantasia apenas em algumas partes, como na parte artística das ilustrações. Mas nós tentamos nos manter com histórias reais, algo que realmente aconteceu, sensações reais, mas não fantasias, não. Desculpe pelo meu inglês, mas... (risos)
As ilustrações do novo álbum tem uma base forte na fantasia...
C: Foi uma cooperação entre nós e um artista alemão, e nós escolhemos fazer umas pinturas corporais, e usar nós mesmos em vez de modelos ou algo do tipo. Nós quisemos ser como duas criaturas estranhas na floresta, num mundo fantástico. E estar em um sonho, como no título do álbum. E quisemos que fosse sobre natureza, porque quando você está numa floresta, por exemplo, você está livre, porque você pode gritar, pode fazer o que quiser. Não tem ninguém ali pra olhar pra você. E foi por isso que escolhemos uma floresta como cenário, para ser como, você sabe, elfos, mas só porque quisemos fazer algo especial, não com algum significado real. Nós quisemos uma capa especial para atrair atenção.
Então você acha que a sociedade surpime a liberdade das pessoas de serem livres para ser quem são?
C: Ah sim, é claro. Sabe, tem muita censura. E eu acho que metal é o pior estilo musical para se estar se você não quer ser censurado, porque a cena do metal é muito pequena. Por exemplo, se você está no Hip-Hop, você pode falar sobre qualquer merda que você quiser, mas você se você está no metal, você é visto como sujo, se você tem cabelo comprido, você é um criminoso. Tem muita discriminação. É muito dificil falar o que você quer se você não quer a imprensa inteira em cima de você.
Quando a idéia de ter dois vocalistas surgiu?
C: Eu entrei mais tarde na banda, porque antes de 1996 a banda era diferente, sabe? Só um vocal masculino, e ele costumava cantar diferente, bem mais rasgado, mais como black-metal, ou algo do tipo. Eles me perguntaram se eu queria tentar cantar algo para eles, mas só para um refrão, sabe, uma parte pequena. E quando eles viram o resultado, eles me pediram para ficar na banda como membro. Então eu disse "sim", e as coisas aconteceram a partir daí.
Como você acha que eles teriam desenvolvido a banda se você não tivesse se juntado à eles?
C: Erm, é difícil responder. Erm, eu realmente não sei. Eu acho que a música talvez fosse a mesma, com a única diferença talvez na imagem. Quando você tem uma garota na banda, você recebe mais atenção da imprensa, porque isso é algo especial. A cena do metal é uma cena masculina, não tem muitas garotas nas bandas.
Esse tipo de foco que a mídia dá te incomoda?
C: Sim! (risos) Porque as vezes a imprensa tenta me ver como um sex-symbol, e eu não sou. Eu sou realmente normal. Eu faço o meu melhor quando eu canto, e eu não quer ser, sabe, muito o ponto focal da banda. Quer dizer, pode ser uma ajuda, porque você está na imprensa, e na rádio, e se você dá mais entrevistas é melhor para a banda. Mas, na minha opinião pessoal, não é tão bom! (risos) Porque eles olham principalmente para você, e só então eles vão escutar a música, prestar atenção na banda.
Eu notei que em resenhas de álbum e participações que vocês são muito comparados com a banda "The Gathering", o que me
parece uma comparação meio preguiçosa. Como você se sente sobre isso?
C: Então, é um elogio, porque eu realmente gosto da voz da Anneke, e eu gosto da música que eles tocam. Mas eu acho que nós somos completamente diferentes. É normal nos comparar ao The Gathering porque ambas as bandas tem vocal feminino, nós tocamos um estilo parecido e temos a mesma gravadora.Mas agora, as direções das bandas estão completamente opostas. Eles escolheram tocar meio no estilo de Pink Floyd, e nós escolhemos ficar mais nas nossas raízes do metal! (risos) Mas é normal para bandas serem comparadas. Talvez só bandas como Metallica e Marilyn Manson não são comparadas!
Você tem alguma religião?
C: Erm, não. Eu acredito em algo, mas sabe, eu não vou à igreja todos os domingos. Eu gosto de acreditar em algo, porque me faz mais forte. Eu não sei porquê, mas quando eu estou triste, quando estou deprimida, pensar que existe algo... depois. Mas eu não sou cristã, ou tenho alguma religião específica que eu sigo. Eu acredito em paz, e acredito na minha própria versão de Deus.
E visão política?
C: Não, Não. Absolutamente... Eu odeio política! (risos)
Muitas das letras parecem ser sobre "Amor". O que isso significa para você?
C: Hmmm, eu acho que é a coisa mais importante do mundo! É como a Madonna disse "Nada realmente importa. Só precisamos de amor." E eu acho que é verdade, você pode ir a qualquer lugar se você ama alguém e é amado. Eu acho que dinheiro não consegue comprar amor.Nada pode comprar amor.Eu sou muito romântica nesse ponto.
Quando você percebeu que queria ser cantora?
C: Aahh... Acho que em 1991. Porque eu sempre gostei de cantar, mas eu nunca pensei em me tornar vocalista numa banda. Eu só gostava de cantar, mas sozinha. Eu não sei porque eu nunca pensei em fazer algo assim, mas se a banda não tivesse me pedido para me juntar a eles, eu estaria fazendo alguma outra coisa.
E quando você começou a compor?
C: A compor? Erm, com o Lacuna Coil, em 1996. Porque eu sou boa em achar a melodia vocal na música. Mas não sou muito bom, você sabe, achar palavras! (risos) Eu preciso melhorar meu inglês! Como você está percebendo!
Quais são as suas memórias mais antigas da infância?
C: Erm, mais antigas? ... Eu não consigo lembrar! (risos) Não tem nada de especial, porque minha família é uma família italiana normal. Eu passei momentos ótimos, mas nada muito especial, sabe? Não, eu tive uma infância bem normal. Eu nunca viajei muito quando era mais nova... Então acho que é melhor agora.Eu cresci numa cidade, não tem nada de muito especial em uma cidade.Nós não tínhamos campos ou montanhas, ou nada realmente bonito para ver. (risos) Nós só viamos fumaça e carros. Desculpe!
Você descreveu a Grã Bretanha como "guiada pela moda", onde imagem é mais importante que música. O que você quis dizer com isso?
C: Hmmm, sim, eu concordo! Porque todas as vezes que vemos Londres na TV, todas as vezes a imagem é mais importante que a música. Tem muitas bandas, não só em Londres, mas só vemos, por exemplo, MTV. E você consegue ver, antes de mais nada, a imagem. Um vídeo muito bonito, com roupas estranhas, e é bem legal de se ver, porque imagem é muito importante, mas na Itália não é a mesma coisa. Nós temos cantores com uma imagem bem simples, sabe? O "garoto bonzinho do fim da rua". Nós não temos essa coisa com imagem na Itália. É bem dificil, você nunca acharia um Marilyn Manson na Itália, por exemplo. Nunca. Tem muita censura nesse ponto. Você pode achar talvez drag queens vestidas como Marilyn Manson. Mas tem pouquíssimas pessoas. Não tem essa liberdade que existe em Londres. Tem muitos italianos que eu conheço que foram para Londres por esse motivo. Porque existe mais liberdade, Se você quer se vestir completamente de preto, aqui na Itália as pessoas olham para mim. É ridículo, mas... a Itália é muito conservadora. Mesmo nas revistas mais comerciais você só acha homens e mulheres perfeitos. Você nunca veria uma revista grande sobre Heavy-Metal, por exemplo. Tem pouquíssimas pessoas que seguem estilos de músicas tido como estranhos. Na Itália o estilo musical principal é a música mainstream.
E como você se envolveu com música alternativa?
C: Porque eu odeio a música usual Italiana! (risos) Eu acho que é bem besta, e inútil. Todas as vezes eles escrevem a mesma canção, e tentam convencer as pessoas que é uma música diferente! A música ainda é a mesma. desde a primeira canção, só que com uma letra diferente. É tudo bem idiota!
Como você vê o futuro da banda?
C: Oooofff.... É bem díficil prever.Eu espero viver da nossa música.Esse é meu sonho. E para o futuro, eu não sei. Nós temos que promover muito esse álbum ainda, essas duas turnês, e é bem dificil pensar no "depois".Porque estamos nos concentrando no agora. Mas eu acho que o próximo álbum sera mais marcante, para tentar, talvez, experimentar com algo novo. Achar novas maneiras de cantar. Eu quero pesquisar novos tipos de estilos, ouvir muitas coisas diferentes, como música Celta ou música Árabe, por que não? Eu quero estudar.
Essa próxima pergunta é uma que sempre perguntamos aos entrevistados.Se você pudesse ser um animal, qual você escolheria ser?
C: Aaah, essa é bem dificil, porque eu amo animais, mas de um jeito bem estranho, porque eu sou completamente maluca por eles. Eu não sei, eu amo cachorros. Mas eu acho que eu não gostaria de ser um! (risos) Talvez uma pantera, É. Porque eu gosto da feminilidade delas, elas são muito sexy, bastante agressivas, mas parecem ser doces. Eu gosto da imagem que elas tem, e da doçura e da agressividade.
Já te perguntaram isso, não perguntaram?
C: Não! Nunca. (risos) Talvez eu seria um gato... Mas eu preferiria ser uma pantera.
Uma pantera é melhor, porque todo mundo sempre diz que seriam gatos! Tudo bem. Se você pudesse visitar qualquer lugar no mundo, pra onde iria?
C: Tóquio! Porque eu realmente me interesso em, sabe, video games e esse tipo de coisa. E lá é maravilhoso para esse tipo de coisa. Eu iria para Tóquio e só compraria video games! E algumas coisas para computador. Eu realmente me interesso por isso!
Alguém já disse Tóquio antes?
Não, ninguém nunca disse Tóquio antes!
C: Ah... que bom!
Falando sobre vídeos. Vocês tem algum plano de fazer algum clipe para alguma música?
C: Er, não. Acho que não, porque nós queremos fazer um clipe lindo.Se você não tem orçamento para fazer um vídeo bom, acho que é meio inútil fazer um. Então eu acho que nós vamos preferir esperar. É melhor ter apenas um bom clipe, que é muito muito bom, do que dez que não são lá grandes coisas.
Como você vê a cena músical na Europa evoluindo?
C: Tem muitas bandas que estão crescendo agora. Na Itália não tem uma cena muito grande, mas tem muitas bandas boas, como o Rhapsody. Eles são bem famosos por toda a Europa. Mas eu não sou muito interessada em novas bandas que não são da Itália. Mas eu não me interesso muito sobre isso, num geral. Eu só leio as revistas, mas eu não conheço muitas bandas novas. Eu estou tentando me concentrar apenas no Lacuna Coil agora. (risos) Eu não tenho tempo de seguir outras bandas. Eu gostaria, porque eu realmente gostaria de ouvir tudo o que está acontecendo, mas...
Nesse momento o tempo reservado já havia estourado e nós tivemos que terminar a entrevista. KAL
Link Original: http://www.emptyspiral.net/interviews/kaleidoscope-1999/

